quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ah verão

Aconteceu tudo bem cedo.

Quando percebi já estava devendo tempo.

Esperar faz parte, e fez parte do meu dia.

"Tire tudo que está levando", ela disse.

Nossa, quanto desprendimento, essa é a parte que mostro que não devo nada, estou fazendo isso por livre e espontânea vontade.


Espero mais um pouco.

Ouço um som diferente, não é talento, mas parece que está tudo indo rápido demais.

Aceleração.

Sinto meus dois pés no ar, ah que leveza.

Friozinho na barriga, nervosismo? Paixão? Por que não pergunta aos santos, Drummond?

Lá de cima confirmo o que já me disseram: somos tão insignificantes, mas entendo o porquê dos anjos serem tão felizes, é tão bonito ver onde eles dormem.

Pluf. Pressão no ouvido. Pressão da saudade. São apenas pensamentos, deixa.

"Água? Suco?" "Água, por favor!" Preciso engolir minha frustação de não poder morar ali naquela nuvem.


O que antes demorava nove horas, agora em menos de uma acontece.

O que procurava a vida toda, semana passada eu achei.

O que está acabando no mundo, estão oferecendo lá em cima.

Ah esses anjos, eles sabem bem onde moram, há quem não concorde. (:

No algodão eu encontrei meu doce, agora me sinto como uma criança voando, mas eles são contra mim e me dizem que estão preparando pra pousar.

Tudo bem, dessa vez eu vou pousar, mas só porque você que está no controle, sei que volto aqui pra ficar de vez.

Um dia todos verão, ahverão, que aqui em cima, foi os Santos que nos proporcionaram a visita, mas os anjos que nos farão ficar.

Camomila

Foi de repente.
(antes de lerem, quero que saibam que cansei dos meus textos, formato tão fechado, enjoativo, mas só mais dessa vez vou escrever desse jeito, vou tentar mudar, mas amanhã, por que amanhã algo muda)

Hoje ouvi muita coisa e acabei falando pouca. Logo eu que falo mais rápido do que penso, hoje acabei pensando rápido para resolver meu contratempo.
A humanidade está atrás de soluções para tornar nossa vida mais longa possível, "Vida média no Japão é superior há 81 anos" disse o jornal um dia desses, mas eu percebi que estou correndo contra essa vontade, porque meus minutos passaram a ser apenas milésimos, e o restante da noite que há pouco tempo era eterno, virou um piscar de olhos. As folhas do calendário já tem viva própria, passam rápidas correndo atrás de algo que ainda não pensei. Os trinta dias do mês passado já foram arquivados, mas hoje vieram me visitar.
Todos eles me deram boas vindas, contaram um pouco do que aconteceu comigo. Mudança? Será? "Você mudou!", me disseram. "Me mudaram", eu completo sem tentar alongar a conversa, pois ainda mantenho meu ideal de corte de inutilidades. [grande arcadismo]
Mas o INUTILIA TRUNCAT que tanto persigo, é uma das únicas coisas que guardo do eu original.
Deixei de escutar meus cds. Deixei alguns quilos.
Notícias? Já me contento com as que eu mesmo faço.
Esqueci de pagar a conta, esqueci de ligar pros meus pais...
Dimini minhas hora de sono para ver se o interfone toca no meio da noite, atendo e diz do outro lado do aparelho:"sou eu..."
Camomila.
Estou meio lento. Estar lento não é algo tão ruim. Eu digo que é culpa do chá. Não acreditam quando digo que meu corpo fica calmo, mas meu coração é como se estivesse sendo alimentado por taurina.

"Ser feliz". Ela disse que esse é o plano que traçou.
E digo que há diferença quando escolhemos como chegar nesse objetivo.
(Nossa que sono)
Mesmo sem ter feito uma pergunta, respondo ela sem dizer nada, apenas para mim, que nessa estrada até o plano, eu vou estar no meio do asfalto pedindo carona.

Tá, tem a estrada, tem a viagem, mas e o mapa?
Estou meio cansado pra te dizer ao exato como vou chegar e pedir carona nessa felicidade, mas eu lembro que pedi uma ajuda: um lápis.
"Poxa, mas um lápis?"
É cara/mara leitora...
Não tenho um mapa, mas eu insisto que leve o lápis que pedi, assim podemos traçar com a ajuda de seus olhos, o nosso destino.

Arial

Admiro e ao mesmo tempo condeno o imediatismo. Acredito que seja assim mesmo, largamos algumas coisas pelo momento, pelo dia, talvez por essa semana, algo que nos complete por agora e o depois não importa, o tal "carpe diem". Mas uma coisa que não faria seria largar a mão de uma amizade pelo instante. Talvez pelo fato de uma amizade não ser momentânea, né? Nosso orgulho talvez nos force a fazer algo, mas o egoísmo tomou conta de você, lamento, mas me afasto. Não entendo e prefiro que continue assim. Algo pra te preencher, faça isso com ar. Já estamos aqui embaixo, hora de se ligar. Mudança, faça isso devagar, da proteção total para o salto no abismo é muita irresponsabilidade. Vou tratar essa situação de forma niilista, mas torço para que isso seja aprendizado para todos nós, perder faz parte do jogo, depois de aprender isso talvez me entenda, aí podemos conversar.
Boa sorte Arial, mas nunca te usei como fonte de inspiração.

Momento decisivo

Veio como nunca, um olhar diferente, não de paixão, de busca, desfocado.
As pálpebras baixas indicam sua artificial sonolência, provocada a força em busca da utópica felicidade.
Como quem observava um naufrágio, me analisou da forma mais perdida possível e disse que deveríamos apenas dormir.
Um olhar sem sentimento, vago, fixo no ar como se admirasse uma obra de arte.

Não disse nada, apenas escrevi um bilhete, sabia que não iria me entender, mesmo assim tentei
Errei ao forçar uma resposta "Planos a esquerda, né?" "Isso", disse de forma sucinta a um "desconhecido".

Desconhecida foi minha atitude, compaixão.
Não dormi, apenas observei por um par de horas, tentei entender o objetivo da fuga, não consegui.

Ao contrário do que disse o fotógrafo Cartier-Bresson, quanto ao momento decisivo, pessoa certa na hora certa para a captura de imagem fabulosa, estava lá o amador, na hora errada capturando imagens sem saber se seria a pessoa certa.

Não revelo essas fotos, mas guardo no álbum que pretendo perder, a cabeça.

Truco


Aposto
Tudo
Perco
O jogo
Espero
Voltar
Mas
Agora
Não
Posso
Ter
O naipe
De
Corações,

Dama, não fique fora desse baralho.

(Crédito da foto:
www.flickr.com/photos/gilbertofilho)

Dia de cinza

Primeiro dia cinza. Tinha que ser num domingo, tinha que ser.
Domingo me deixa assim, cinza.
O inverno chegou à cidade que só traz frio com lambidas de vento sul.
Tudo bem, esse inverno será diferente, a baixa temperatura se dá a falta, não de sol, mas daquele abraço.
A ausência dele uniu as quatro estações, fez-se uma só, chamada saudade, e como é fria essa época do ano.
Não estava acostumado, é meu primeiro ano aqui, e percebi que não há agasalho que me esquente.

O som do vento não cessa, mas pra descongelar vem a voz do sol me cumprimentar.
A luz da maior estrela é acompanhada por uma música. Repetida inúmeras vezes, ela não cansa e diz que se sente bem ouvindo a letra, o ritmo, a entonação.
O violão traz notas e o balanço que me balança tanto até perder temperatura.
Hoje é dia de luto pela semana que virá de frio.
Mais uma semana sem sol, esse é o meu inverno no litoral, paisagem cinza, ventos-sul, e milhões de centímetros distante dela.
Também é assim com os centímetros: pequenos quando separados, grandes quando se unem para mostrar o tamanho do mar.

Limite não existe


Por que você não disse antes?

Eu não vejo mais barreiras

Limite é uma palavra inexistente esta noite.

Até onde podemos ir? Combustível não vai faltar, apenas sorria.


Mais que droga. Necessidade diária.

Aos poucos, mato-me com semanais overdoses.


Não sei quando parar.

Esse verbo só me surpreende quando me refiro ao meu coração.


Voltei a perder peso, ganhar consciência.

Que peso é esta ausência.

Quantos quilos pode-se agüentar a consciência?


Senhor açougueiro, tem coração?

Meio, por favor.

Senhor garçom, água com gelo.

É... hoje é só isso mesmo.

Senhorita, amanhã não te vejo, mas pode saber, lhe desejo.